Author: meierpedia | Filed under: Pastores
Nasceu
em Ubaira, ex-Areia, no interior da Bahia, em 16 de agosto de 1922.
Muito cedo perdeu a mãe. Aos doze anos era semi-analfabeto, dizia ele.
Por esse tempo dedicava-se a serviços agrícolas numa fazenda. Certa vez
veio um grupo de crentes à sede da fazenda para pregar o evangelho. O
menino órfão sentou-se à soleira e ouviu a pregação. Os adultos não lhe
deram muita importância. Os próprios crentes foram embora sem sequer
falar com ele. Mas ele se convertera ouvindo a pregação naquela tarde,
passando a ser o único crente na família. Posteriormente o menino veio
conhecer um casal de crentes num lugarejo próximo. Ele andava longo
trecho a pé, aos domingos, para assistir aos cultos na igreja. Um dia o
casal de crentes, que havia conhecido, deixou a localidade e com o jovem
amiguinho um Novo Testamento. E foi lendo e relendo este Novo
Testamento, até altas horas da noite, à luz de querosene, que Roque
Monteiro de Andrade não somente se aprofundou no conhecimento das
verdades eternas como também aprendeu a ler direito. Aos dezesseis anos,
plenamente convicto, foi batizado por um pastor de uma Missão Batista
Independente. Nessa ocasião conseguiu ir estudar em Jequié – BA: fez o
curso primário em dois anos e ingressou no ginásio. Já com mais de vinte
anos veio para o Rio de Janeiro e iniciou o Curso Colegial no Colégio
Batista, quando foi chefe de disciplina para pagar seus estudos. Mas
seu sonho era dedicar-se ao estudo de línguas e, por isso, transferiu-se
para estudar o curso clássico em Niterói.
Muito cedo sentiu a chamada para o
ministério. Certa vez o diretor do Colégio Batista, Missionário Paulo C.
Porter, necessitou de alguém para pregar em português na Segunda Igreja
de Nova Odessa – SP. Convidou o moço baiano e esse aceitou. Assim,
quando terminou o curso clássico, resolveu ficar naquela bela região
paulista e fez o seu curso teológico no Seminário Presbiteriano de
Campinas. Obteve o grau de bacharel em teologia em 1950. Nos dois
últimos anos de seminário, trabalhou com a Igreja de Mogi das Cruzes e
foi essa que o consagrou em 1949, a pedido da Primeira Igreja de
Sorocaba. Nesse mesmo ano, em maio, casou-se com D. Rosa Bernardes de
Andrade. Tiveram quatro filhos, em cujos nomes se pode perceber as
predileções do pai: Rui Otávio, Neander Paulo, Hubmaier Lucas e Amurabi
Farel.
A seu currículo acrescentou o curso de
Metodologia Lingüística, originário do Summer Institute of Linguistics
Inc – Huntington Beach, CA – Estados Unidos.
Em Sorocaba, Roque Monteiro de Andrade
foi pastor de 1949 a 1951; depois, de 1951 a 1954, esteve no pastorado
de Mogi das Cruzes, com sacrifício, lecionando durante as noites no
Instituto Bíblico na cidade de São Paulo. Deixando Mogi, foi
missionário da Convenção Batista da Capital de São Paulo, desenvolvendo
visitação às igrejas da capital que não possuíam pastor. Em seguida,
foi pastorear a Igreja do Alto da Mooca, uma igreja muito pequena.
Estava nesse pastorado quando publicou seu primeiro livro – Aguilhões de
Deuse começou a lecionar História Eclesiástica na Faculdade Batista de
Teologia.
Em 1965 veio para o Rio de Janeiro e
assumiu o pastorado integral da Igreja de Madureira, onde ficou até
1968. Nesse ano começou a lecionar no Seminário Teológico Batista do
Sul do Brasil, passando então a dedicar a maior parte de seu tempo ao
ensino teológico. De quando em quando aceitava um pastorado interino, em
que foi uma verdadeira bênção. Assim, pastoreou a Igreja Batista do
Méier de 31/01/1971 a 02/01/1972. Também pastoreou a Primeira Igreja
da Ilha do Governador e a Igreja de Bento Ribeiro. Lecionou no Seminário
do Sul durante dez anos e se aposentou.
Seguiu para Campinas e, com alguns
companheiros, fundou a Faculdade Teológica de Campinas em que, mesmo
aposentado, lecionou algum tempo. Depois de 10 anos em Campinas ,
retornou ao Rio de Janeiro e passou a utilizar seu tempo visitando
Igrejas, conferenciando e participando das atividades da Academia
Evangélica de Letras do Brasil, de que era membro, ocupando a Cadeira
José de Souza Marques.
O Diretor de O Jornal Batista José dos
Reis Pereira dizia que o Pastor Roque Monteiro possuía o dom de línguas.
Além do hebraico que ensinou no Seminário e em que se foi aprofundando
cada dia mais, convivia bem como o grego e o latim. Das línguas vivas
lia muito bem alemão, inglês, francês, italiano e espanhol. Foi o
tradutor de sete livros do inglês para o português: entre eles está a
obra que celebrizou C. L. Lewis–The Screwtape Letters, Cartas do Inferno
em português. A razão por que se dedicou e se especializou no estudo
do hebraico é curiosa: em 1956 estava com alguma dificuldade nos olhos e
resolveu fazer a sua leitura bíblica em hebraico porque as letras eram
grandes. Já sabia hebraico desde o Seminário, mas entrando em contato
com o Pastor Schmall, batista e judeu, este o ajudou ainda mais no
estudo. Passou então a ler o Velho Testamento somente em hebraico. E o
Novo Testamento somente em grego.
O Pastor Roque era um grande pregador e
pregando gostava de ensinar. Certa vez criticou duramente o cineasta
Martin Scorcese (americano – 1942) , cujo filme A Última Tentação de
Cristo, de1988, narrava um sonho erótico de Jesus. O Pastor Roque
Monteiro afirmou que havia um erro teológico no filme. Ensinou que
Jesus nunca poderia viver o sentimento que lhe foi imposto por Scorcese,
pois a natureza humana de Jesus era uma natureza diferente da nossa –
pecadora – e igual a que possuiu Adão antes do pecado. E concluiu: era
uma natureza adâmica. Lembrou, então, e explicou I Coríntios 15:45.
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Face a suas limitações com a visão,
aprendeu braile e teve oportunidade de escrever um livro nessa linguagem
dos cegos. De sua autoria foram publicados os livros Aguilhões de Deus
(1964), Um Romance em Cada Canto (1972), E O Dilúvio Aconteceu (1973),
Inerrância da Bíblia (1974), A Razão da Esperança (1976), Púlpito à
Sombra da Cruz (1977), Cátedra e Púlpito (1978).Ainda de sua autoria,
não foram publicados: Fragmentos de uma Correspondência Teológica,
Interpretação de Textos Bíblicos, Raízes Batistas, Ensaio Apologéticos,
Avaliação Teológica de Martinho Lutero, O Gênesis – Conhecimento
Revelado, Antigo Testamento – Relicário Homilético, O Apóstolo Paulo,
Instantes de Fé, Esperança e Amor, Da Veracidade dos Milagres Bíblicos,
Imaginação, Idéias e Ideais. Traduziu, além de Cartas do Inferno já
citado, entre outros: Eu Creio, O Que é o Ensino, Princípios de Ensino
para o Professor Cristão e Teologia Protestante ao Alcance de Todos.
Reclamação comum de seus leitores – inclusive do conhecimento da família
– é que seu texto sempre se apresenta muito denso e de difícil
leitura. Esse estilo do Pastor Roque ele absorveu durante toda sua vida
porque era intenso leitor de autores eruditos, com os quais se
comprazia. Absorveu-os durante a vida e da pena de sua caneta fazia-os
fluir, sem poder alterar sua maneira de escrever, confirmando Bufon ao
afirmar que L’estil est l’homme (O estilo é o homem).
Já aposentado e realizado em sua vida de
Professor, sempre afirmava que o título que mais prezava e de que
gostava de ser tratado era de Pastor. Com sua família toda integrada na
obra do evangelho, deixou este mundo em 10 de abril de 1990, no Rio de
Janeiro.
Fontes – O JORNAL BATISTA. N. 22/73; Rio de Janeiro;03/06/73, página 1.Informações da Família
Tags: Roque Monteiro de Andrade
Lembro-me bem do Pastor Roque e de sua erudição. Ele pastoreou interinamente a Ig. Batista de Bento Ribeiro, na qual fui criado. Seus filhos foram meus colegas no Col. Souza Marques. Inclusive ate hoje tenho contato com o Hubmaier Lucas.
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